Muito se tem falado e discutido a respeito do assunto, mas o que se pode ressaltar é que a prova é, apenas, um dos instrumentos de verificação da aprendizagem, e que precisa passar por um processo de melhoramento, tanto na sua eficiência quanto na sua eficácia. Essa é a proposta das novas perspectivas de ensino. A leitura de “PROVA – um momento privilegiado de estudo – não um acerto de contas”, pode fazer com que os leitores/educadores repensem acerca dos métodos e práticas de ensino que estão vigentes nos mais variados âmbitos educacionais.
Quando um professor entra em sala de aula, ele deseja desenvolver a sua atividade profissional da melhor forma possível.
“Se nos perguntarmos o que faz um professor em sua atividade profissional, poderíamos responder resumindo seu dia-a-dia: preparar aulas, ministrar aulas, preparar provas, corrigir provas. Essas ações são feitas visando o sucesso no ensinar.” (MORETTO, 2002, p. 13).
Na prática, o que se pode verificar é que uma grande parcela dos professores força os seus alunos a decorarem os conteúdos de forma mecânica, resultando num processo sem muito sentido, que não possibilita a construção de um conhecimento significativo, com solidez. Mas isso não é só “culpa do professor”, ressalta-se, também, que existe uma cobrança por parte de todo um sistema – que inclui prazos e metas a serem atingidos.
“O esforço de quem ensina é fazer com que as crianças desenvolvam a capacidade de atribuir significado ao que está fazendo.” (MORETTO, 2002, p. 15).
O bom desenvolvimento é quando o aluno aprende dando significados aos objetos de estudo, resultado de um ensino estabelecido por meio de objetivos adequadamente escolhidos, e não unicamente reproduzindo o que o professor fala.
“(...) a competência está associada a um conjunto de elementos que permitem a um sujeito abordar uma situação complexa e resolvê-la (...).” (MORETTO, 2002, p. 19).
Essa competência é a capacidade de o indivíduo resolver, com seus recursos, uma situação limitada por alguma complexidade, e para resolvê-la ele terá que ter conhecimentos. Esses conhecimentos precisam ser relevantes, terem sentido, no contexto do aluno.
Entra em jogo, a importância da linguagem na construção de relações significativas, com palavras com sentido, como o conhecimento específico para a resolução de situações complexas, os valores culturais, específicos de cada contexto, que, em muitos casos, pode atrapalhar a aprendizagem e o sentido real da verificação dessa aprendizagem, como por exemplo, a ideia negativa que se tem a respeito da prova. O aluno deve ver a prova como um momento de verificação do estudo e não como uma conta a acertar para com o professor. É preciso que o professor ajude aos alunos a administrar as emoções, estabelecendo limites, sem imposições, criando contextos para essa aprendizagem. E, principalmente, não usar a prova como um elemento de punição.
O objetivo da prova não é avaliar, unicamente, o aluno. O professor precisa compreender que pode, através da prova, avaliar o desempenho de seu aluno e, também, a sua competência profissional.
“(...) outro fator que determinará profundamente a atuação do professor: é a sua concepção do processo de produção do conhecimento (...)”. (MORETTO, 2002, p. 35).
O professor que atua com uma visão tradicional, apresenta o conhecimento de um objeto de estudo como uma descrição de mundo, ou seja, fora do contexto do aluno. E ele reproduz o que aprende. O que não acontece com o professor que tem uma perspectiva construtivista sociointeracionista, onde o conhecimento é uma representação de suas experiências, interações e construções individuais. Nessa atuação, o professor prepara as condições necessárias para que a construção do conhecimento seja efetiva.
“(...) todo conhecimento é uma construção que o sujeito faz a partir das interações com o mundo físico e social de seu contexto.” (MORETTO, 2002, p. 41).
Nessa abordagem, pode-se entender que o aluno apropria-se, constrói, interioriza informações estabelecendo relações significativas com outros conhecimentos, aumentando e modificando conceitos, gerando novas relações. O professor só se encarrega de organizar estratégias que mobilizem as concepções prévias dos alunos.
“O conhecimento do contexto social dos alunos é de fundamental importância para o processo de ensino.” (MORETTO, 2002, p. 45).
Professor e aluno precisam conhecer o contexto social em que estão inseridos, para dar o real significado ao que se aprende.
“(...) uma boa pergunta possibilita uma boa resposta.”. (MORETTO, p. 50).
Quando um professor faz uma pergunta ao aluno ele tem em mente um contexto, que, em muitos casos, é diferente do contexto do aluno. Esse aluno pode responder diferente do esperado. É preciso saber perguntar e ouvir. Um conhecimento bem elaborado amplia a zona de desenvolvimento do aluno e, consequentemente, vai ampliar as possibilidades de respostas.
“(...) a construção do conhecimento se processa essencialmente por meio da linguagem.” (MORETTO, 2002, p. 61).
Através da linguagem, se ligam os contextos do professor e do aluno, diminuindo as controvérsias e chegando-se a uma síntese. Em muitos casos, a linguagem usada faz sentido para o contexto do professor, mas não para o do aluno. Ela deve ser clara, precisa e contextualizada, para que o aluno saiba do que se trata e, assim, possa compreender o sistema e se posicionar melhor.
“(...) é uma das funções sociais da escola, do ponto de vista social, isto é, a preparação do cidadão para sua inserção na sociedade, na qual ele viverá como cidadão e como profissional de alguma área de atividade humana.” (MORETTO, 2002, p. 73).
O professor pode planejar uma intervenção pedagógica objetivando facilitar a aprendizagem, fazendo com que o aluno aprenda na medida em que se encontra como um elemento ativo no processo, respondendo aos incentivos do professor.
“Acumular informações é uma função dos computadores.” (MORETTO, 2002, p. 83).
“Por essa razão, a função do sujeito cognoscente se define cada vez mais no sentido de ser o gerente desses dados.” (MORETTO, 2002, p. 83).
“O termo conteúdos tem se tornado elemento de controvérsias no contexto escolar.”. (MORETTO, 2002, p. 85).
Diante de uma nova abordagem – o construtivismo – os conteúdos foram severamente questionados. A nova proposta aponta para um ensino que desenvolve a capacidade do indivíduo diante de situações complexas. A escola tradicional sempre deu maior ênfase aos conteúdos procedimentais – que estabelece métodos, procedimentos e ações ordenadas para um fim. O aluno, no entanto, deve conhecer conceitos corretos sobre os objetos do conhecimento, e se fazer consciente dos passos e dos procedimentos para a resolução dos problemas.
“A escola forma para a vida e para a vivência plena da cidadania.” (MORETTO, 2002, p. 90).
“Avaliar a aprendizagem tem sido um tema angustiante para professores e estressante para alunos.” (MORETTO, 2002, p. 93).
O problema que é encontrado constantemente, dentro das escolas, é que tanto professores quanto alunos se organizam em função da “avaliação”. Pois, muitos professores não sabem com torná-la uma ferramenta inofensiva, sem cobrar conteúdos ao “pé da letra”, de forma mecânica e, o pior, sem significados para o aluno. O que se conhece é uma relação em forma de dominação, de autoritarismo de professores e uma repressão dos alunos. O que não pode acontecer. A avaliação é feita através de vários mecanismos, assim, dependerá do professor. Ele pode elaborar provas bem feitas, verificando se aconteceu realmente um aprendizado significativo, ou seja, se esse conhecimento está bem estruturado. Quanto à elaboração das perguntas, as mesmas devem ser claras e precisas, dentro de um contexto que dê sentido e que favoreça a resolução.
“(...) a avaliação é eficaz quando o objetivo proposto pelo professor foi alcançado.” (MORETTO, 2002, p. 100).
Deve-se, evitar a exploração exagerada da memorização e estabelecer critérios para a correção. As respostas dadas dependerão, fundamentalmente, das perguntas feitas, e elas precisarão ter sentido no contexto que serão usadas.
Numa prova, “O texto deve servir de contexto e não de pretexto”. (MORETTO, 2002, p. 110).
Quando o aluno se depara com um texto numa prova ele deve encontrar um apoio, um enunciado contextualizado, dados para que ele possa responder a questão – numa perspectiva construtivista – lendo e sendo provocado a formular uma resposta argumentativa.
“Preparar instrumentos de avaliação, sobretudo as provas escritas, exige do professor conhecimento específico, habilidades para contextualizar e utilização de linguagens que tornem a questão clara e precisa.” (MORETTO, 2002, p. 123).
O professor pode desfrutar da consciência de que o aluno desenvolverá suas operações mentais à medida que tiver contato com problemas cada vez mais complexos, ou seja – uma construção progressiva. Para isso, o aluno terá que ter noções de propriedades fundamentais de objetos de conhecimento, elementos que dão significado ao objeto de conhecimento, a aplicabilidade de fórmulas e conceito aos problemas, saber analisar de forma mental um objeto de conhecimento em suas partes – um processo de abstração, saber agrupar/organizar as partes de um objeto de conhecimento e formar um conceito novo – uma síntese, e o de maior complexidade, que é dar um parecer acerca do objeto de conhecimento após a síntese.
Esses valores de níveis de complexidade podem ser analisados numa única questão, para se avaliar os objetivos de aprendizagem e identificar os níveis em que o aluno possa estar.
“O processo de avaliação da aprendizagem precisa ser coerente com o processo de ensino.” (MORETTO, 2002, p. 145).
A escola precisa corresponder às exigências de um contexto social e educacional contemporâneo, atualizando, revendo e aprimorando sempre as suas metodologias e práticas de ensino.
Em resumo, é necessário compreender que o indivíduo precisa descobrir os problemas a serem solucionados, buscar meios, tomar decisões, a fim de resolvê-los. É como Piaget argumenta, que a lógica e a matemática são formas de organização intelectual do homem, ou seja, o próprio sujeito organiza a sua atividade e consegue chegar ao “desenvolvimento do pensamento”.
Como se pode ver, “PROVA – um momento privilegiado de estudo – não um acerto de contas” é uma obra que leva o leitor a um olhar crítico acerca dos métodos de ensino que se tem costume de observar e, principalmente, vivenciar. A chance de fazer algo diferente é desafiador, extremamente desafiador, e é por meio de uma obra como essa, que se pode refletir no quanto é preciso inovar e dar um novo sentido ao ato de “fazer aprender”, de avaliar a aprendizagem de um aluno e fazer uma auto avaliação, para que o processo de ensino aprendizagem não seja um modelo ultrapassado e nem desvalorizado, rotulado como “métodos arcaicos”, que por muito tempo, veem se mantendo presentes nas escolas e se estendendo aos demais níveis de ensino, reproduzindo uma formação de cidadãos sem uma perspectiva de atuação, ou, até mesmo, cidadãos mal capacitados para os processos de desenvolvimento de resoluções de problemas existentes na sociedade em que estão inseridos.
Referência:
MORETTO, Vasco Pedro. Prova – um momento privilegiado de estudo – não um acerto de contas. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. 150 p.
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