Paixão cega é um livro que tem essência bíblica e um teor analítico e comparativo. Ele nos proporciona uma reflexão acerca dos dias atuais, nos fazendo analisar a forma em que estamos conduzindo a nossa vida, em comparação com os dias passados – numa época em que Deus já elegia pessoas para proteger o seu povo, uma época de lutas e perseguições, planos de crescimento, e propósitos de sucesso. De uma maneira muito bem estruturada, o autor da obra faz uma análise da vida de um dos mais conhecidos heróis da Bíblia. A vida de Sansão, um jovem rapaz que, antes mesmo de nascer, teve sua história designada por um plano extraordinário de Deus. Sua trajetória é resumida em altos e baixos, marcada por erros e acertos (mais erros que acertos), porém, é possível perceber os cuidados que Deus sempre teve por sua vida, e principalmente, pelo cumprimento dos Seus planos, até a sua vitória.
O livro está dividido em oito capítulos, o primeiro deles, “Chamado para ter uma identidade”, começa descrevendo a vida de uma jovem chamada Malika, que nasceu em Marrocos durante o reinado de Mohamed V. Esse rei cuidou de Malika durante alguns anos de sua vida, mas esses cuidados não a pouparam de sofrer, num futuro próximo. Malika relata que mediante a muita dor e o sofrimento que passou pôde construir a sua identidade, “Ganhei uma identidade. Minha identidade. E isso não tem preço” p.16. Já com idade avançada e estéril, Malika recebe uma revelação de que daria a luz a um menino, e Deus daria as orientações de como deveria ser a sua educação, para que ele pudesse trilhar um caminho de sucesso. Sansão nasceria para ser juiz, seria dotado de uma força inigualável e defenderia o seu povo dos inimigos filisteus.
O segundo capítulo, “O herói que não vencia”, relata a inteligência de Sansão, as características de seu corpo, surpreendentemente, muito bem definido, a força, as habilidades com as palavras, entre outras características, inclusive a fraqueza pelas mulheres. Apesar de tantas habilidades, Sansão não vencia, era um perdedor. Esse histórico de derrotas é justificado quando se observa a sua rebeldia e desobediência aos planos que Deus havia projetado para ele.
No terceiro capítulo, “Troca de alianças”, é possível ver a fragilidade de Sansão referente à sua aliança com Deus, ele nasceu sob o voto do nazireado, em que não deveria cortar os cabelos, não poderia comer uvas ou seus derivados e era proibido de se aproximar de cadáveres. Foram muitos momentos de desobediência, inclusive, casou-se com uma mulher do povo inimigo. Sansão sempre buscou a satisfação de seus desejos, nunca pensava nas consequências das decisões precipitadas. “Tudo parece dar errado. Do céu parece chover pregos.” p. 37. É claro, sofria as punições decorrentes dessas más escolhas. “Deus permite, até certo ponto, que você desfrute a vida longe dEle. Então, deixa que as coisas deem errado.” p. 37.
O quarto capítulo, “Tem que ser do meu jeito”, nos relembra do domínio próprio, um dos frutos do Espírito, que a Bíblia descreve. Esse fruto é capaz de nos habilitar a vencer impulsos e a equilibrar emoções, nos protege de sofrer as danosas consequências dos atos impensados. E Sansão, claro, não tinha nenhum interesse em vencer os próprios impulsos, inclusive os sexuais, que era o seu maior desafio. Sansão era muito brigão, quando ele entrava numa briga, a vitória, era o seu maior desejo, e quando isso não acontecia ele partia para a vingança, outro erro gravíssimo que acarretava em sérias consequências.
O quinto capítulo, “A pior oração da Bíblia”, é marcado pelas atitudes egoístas de Sansão e pelos modelos egocêntricos que, muitas vezes, são reproduzidos nos dias atuais. Foram tantos os tropeços, que em vez de herói, Sansão já era visto como um problema ao seu povo, onde, movido por tamanha decepção, acabou entregando-o aos inimigos que queriam matá-lo. Mesmo diante desse plano de morte, Deus fez com que ele derrotasse os inimigos, afinal, as promessas de Deus nunca são frustradas, e ainda teria compromissos a cumprir. Inacreditavelmente, após uma batalhar árdua, Sansão age com arrogância diante de seu Ajudador e profere a pior oração que alguém poderia oferecer.
No sexto capítulo, “Tornando obstáculos em Souvenir”, é encontrada uma comparação do que Sansão enfrentou em seus dias, com o que é encontrado nos dias contemporâneos, ou seja, a divisão de ideias, a dualidade de conceitos e valores que norteiam a vida – uma crise que divide as questões religiosas em uma cultura de uma sociedade que se corrompe facilmente. Mesmo havendo Deus dado vitórias a Sansão, ele sempre buscava satisfação sexual no ambiente dos seus inimigos. “Por isso, para não fugir de seu costume, nosso herói arranjará mais uma confusão e, logicamente, envolvendo uma mulher.” p. 59.
Aqui, no sétimo capítulo, “A oportunidade do ladrão”, é descrito o triste relato da extrema falta de atenção de Sansão (se esse não for o seu maior e mais danoso erro). O erro que o conduziria à ruína. A completa falta de vigilância e a insensatez que uma pessoa pode ter é o de negligenciar os cuidados devidos ao seu tesouro. Sansão falou o que não deveria, falou demais. Entregou à Dalila, sua, já segunda mulher, o seu maior e mais precioso segredo, ele revelou a origem da sua força. O que ele não sabia é que Dalila não o amava como ele pensava. Certamente, por pertencer ao povo inimigo, o que Dalila desejava era entrega-lo, e assim, aconteceu. Já sem forças para lutar, com seu pacto rompido, foi vencido e preso. E esse foi preço a ser pago por se envolver com povos de princípios e valores divergentes aos de seu povo, por sempre acreditar estar no controle das situações e se envolver com mulheres do povo inimigo.
O oitavo, e último capítulo, “Da cegueira para a vitória”, revela um herói preso, que teve os olhos furados, já estava sem forças, abatido, do mesmo modo que é possível encontra pessoas, nos dias atuais. Pessoas sem esperança, que erraram tantas vezes e só pararam pra pensar nas consequências dos atos quando o mundo já estava desmoronando sobre a cabeça. “Sansão endeusou o prazer sexual, colocando-o acima de sua vida religiosa.” p.78. O período de prisão, as humilhações que sofrera, e as chacotas constantes fizeram com que Sansão refletisse. “Machucado pelo sofrimento e consciente de que havia desonrado o nome de Deus, Sansão, finalmente, viu o que fizera da vida.” p.78. Genuinamente arrependido, e disposto a entregar a própria vida a fim de cumprir o seu propósito de existência, ele abre o coração a Deus – em uma oração íntegra, que demonstra completa dependência do Senhor – e Deus o ouve. O que Sansão havia negligenciado numa vida inteira, naquele momento, se tornava o maior desejo de seu coração: que a sua missão fosse cumprida. “Que eu morra com os filisteus! Em seguida ele as empurrou com toda a força, e o templo desabou sobre os líderes e sobre todo o povo que ali estava. Assim, na sua morte, Sansão matou mais homens do que em toda a sua vida” Jz 16:29-30.
A leitura de “Paixão cega: O herói que precisou perder a visão para enxergar”, nos leva a um nível de reflexão que pode nos revelar o real modo de como estamos vivendo, de como estamos encarando as nossas responsabilidades, como pessoas que afirmam o tempo todo crer em um Deus vivo. O simples ato de crer, verdadeiramente, já pode gerar em nós uma consciência de que viver de qualquer maneira não é o suficiente. É preciso mais. Mais fé, mais responsabilidade – mais compromisso. É ter mais certeza de estarmos no caminho que nos leva a uma vida plena, diante dos planos de sucesso que o Senhor tem para cada um de nós. De saber valorizar o que Deus tem feito por nós, e de reconhecer que Ele pode fazer muito mais do que pedimos ou pensamos. Não precisamos errar como Sansão errou tantas vezes. A diligência, a cautela, a vigilância pode nos favorecer, na medida em que nos aproximamos de Deus, e nos permitimos sermos cuidados por Ele. A vida é passageira e, infelizmente, Sansão só reconheceu essa realidade num momento muito tardio. Nós, no entanto, temos a oportunidade de, através do seu exemplo, fazermos diferente e desfrutarmos de uma jornada com dias melhores.
Referência:
REIS, Douglas. Paixão cega: o herói que precisou perder a visão para enxergar. Tatuí, São Paulo: Casa publicadora brasileira, 2010. 90 p.
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