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Na vida dez, na escola zero




Juazeiro – Bahia, 30 de Maio de 2009.



Caro amigo,
Fiquei sabendo que, como eu, você está cursando Licenciatura em Matemática, como sei que é de seu interesse saber mais a respeito de práticas pedagógicas de sucesso, quero convidá-lo a fazer uma leitura de um livro que li e achei muito interessante. O livro Na vida dez, na escola zero, que é resultado de uma pesquisa curiosa, ao longo de quase dez anos, de três pessoas no curso de mestrado em psicologia da UFPE, relata-nos uma história de crianças de escolas publicas que se saíam mal nas provas de matemática na escola, mas, se saíam relativamente bem, na vida, em suas atividades como feirantes ou brincando, passando seus trocos. As três pessoas/autoras são Terezinha Carraher, David Carraher e Analúcia Schliemann, tiveram o apoio de outros pesquisadores, universidades e instituições que apoiaram suas implicações.


O livro, que me refiro, está dividido em oito capítulos, todos subentitulados, comentados e elucidados, de forma a proporcionar um bom entendimento do leitor. Em todos os textos, são relatadas experiências feitas com jovens e crianças que estudavam e, as que, além de estudar precisavam trabalhar, ou seja, tinham contato concreto com números. Em suas rotinas deveriam saber como lidar, com competência, com esses números e não cometer erros para não saírem perdendo dinheiro, geralmente eram envolvidos no setor financeiro, numa venda de objetos ou com produção em madeiras, ás vezes tinham que manipular medidas e pesos na mensuração de mercadorias, como podemos ver na leitura do livro. No primeiro capítulo, “A matemática na vida cotidiana: psicologia, matemática e educação”, encontramos o seguinte apontamento, de que, na prática, a psicologia a matemática e a educação, como disciplinas escolares, não estão dissociadas, uma gera e consolida a eficiência da outra, “A atividade que conduz a aprendizagem é a atividade de um sujeito humano construindo o seu conhecimento”(p.12), como você poderá constatar em sua leitura. No segundo capítulo, “Na vida dez, na escola zero: os contextos culturais da aprendizagem da matemática”, é aberta uma reflexão: “o fracasso escolar é o fracasso da escola”. É necessário conhecer a matemática inserida na vida das crianças, para poder construir vínculos, a fim de ajudá-las a aprender a matemática ensinada na escola. No terceiro capítulo, “Matemática escrita versus matemática oral”, para algumas crianças, os procedimentos orais fazem parte de uma manipulação na resolução de problemas que são feitos “de cabeça”, e fazem, também, modificações mentais para facilitar a obtenção de resultados. A matemática escrita apresenta suas vantagens do ponto de vista do desenvolvimento do aluno na escola, mas também é importante que o professor reconheça e valorize a matemática oral, pois, ela ajuda o aluno a desenvolver sua lógica-matemática na compreensão de números em suas habilidades diárias. No quarto capítulo, “Escolarização formal versus experiência prática na resolução de problemas”, pode-se perceber que o aluno, ao resolver um problema envolvendo conceitos matemáticos, ele o relaciona ao seu contexto de vida, em suas experiências diárias, para obter os resultados de forma mais consciente. No quinto capítulo, “A compreensão da análise combinatória: desenvolvimento, aprendizagem escolar e experiência diária”, observa-se que o estudo escolar de análise combinatória limita-se muito ao uso de formulas e algoritmos para a resolução de problemas como arranjos, permutações e combinações entre elementos, retirando da matemática sua característica de ser uma ciência dedutiva. “o conhecimento matemático é construído tanto pela experiência como pela reflexão” (p.86). No sexto capítulo, “Passando da planta para a construção: um trabalho de mestre”, foi analisada a profissão de mestres-de-obras, que por ser uma profissão de baixo prestígio social, não são encontrados muito cursos de aperfeiçoamento. Os estudos comprovaram que seus trabalhos, na ausência de escolaridade, resultaram em um desenvolvimento de estratégias para a solução de problemas, envolvendo proporcionalidade, que é encontrado no estudo formal, o escolar. “certamente não podem ser considerados deficientes quanto a suas habilidades lógico-matemáticas” (p.121). No sétimo capítulo, “Álgebra na feira?”, são apresentadas, aos alunos, situações-problema, eles tiveram contato com balanças para romper com a ideia de que álgebra é um conceito matemático abstrato, como muitos professores acreditam. Pôde-se notar que a compreensão foi maior quando os alunos tiveram contado com o concreto, manipulação de equivalências. No oitavo capítulo, “Cultura, aritmética e modelos matemáticos”, a cultura e a mente humana interagem entre si, a cultura direciona o desenvolvimento da mente. Símbolos representam conceitos, que, por sua vez, geram situações. Os conceitos podem ser restritos ou amplos, dependendo da prática pedagógica do professor, que estão sempre distanciadas da vida diária dos alunos. Os símbolos são ofertados pela cultura. “A matemática da rua é predominantemente oral e a matemática da escola é quase que exclusivamente escrita” (p.148), na vida, não se usa lápis e papel para se calcular, já na escola, as contas e os problemas são sempre apresentados em forma de palavras, as resposta orais não são reconhecidas.


Amigo, é como os autores do livro dizem: “não é possível culpar as crianças de seus fracassos na escola: a escola precisa descobrir o conhecimento dessas crianças e expandi-lo” (p.167). O indivíduo precisa descobrir os problemas a serem solucionados, buscar meios, tomar decisões, a fim de resolvê-los. É como Piaget, estudiosos da psicologia, relata que a lógica e a matemática são formas de organização intelectual do homem, o próprio sujeito organiza sua atividade e consegue chegar ao “desenvolvimento do pensamento”.


Espero que tenha despertado o seu interesse em fazer a leitura do livro. Como você pôde ver, pela prévia, é uma obra que vai levá-lo a um olhar crítico do método de ensino que temos costume de observar. A nossa chance de fazer algo diferente está aí, é por meio de uma obra como essa, que vemos o quanto é preciso inovar de dar um novo sentido ao ato de “fazer aprender”.



Atenciosamente,
Nel Santana.





Caro(a) leitor(a), ao comentar, deixe, também, o seu nome para não ficar como desconhecido. Obrigado!

2 Comentários

  1. Li. Muito bom. Parabéns por indicar a leitura e reflexão.

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    1. Que bom que gostou!
      Obrigado pela visita e por deixar o seu comentário!

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